“Não se pode negar bênção a ninguém”, afirma Philippe Bordeyne, presidente do Instituto João Paulo II

Philippe Bordeyne, presidente do Instituto João Paulo II para Estudos sobre o Casamento e a Família, baseado em Roma, diz que a bênção não tem o objetivo de validar um modo de vida particular. Em vez disso, é uma forma de manifestar o bem que Deus quer para a humanidade. O teólogo francês de 62 anos, que foi reitor do prestigiado Institut Catholique de Paris de 2011 a 2021, dá mais detalhes nesta entrevista.

A entrevista é de Clémence Houdaille, publicada por La Croix International, 18-11-2022. A tradução é de Wagner Fernandes de Azevedo.

Eis a entrevista.

Dar uma bênção significa necessariamente validar uma prática?

Eu não penso que seja certo introduzir à bênção uma noção de avaliação ou validação. Uma bênção é uma oração direcionada a Deus, para louvar a Deus, pedir a Deus por ajuda e proteção. Isso preocupa as pessoas, e possivelmente também as atrapalha em suas relações pessoais… mas esse papel não é para validar uma prática.

Abençoar, porém, é manifestar o bem que Deus “diz” das pessoas e que Deus quer para elas. Na linguagem cotidiana, dizer “está certo” ou “está errado” é julgar. Mas, na Bíblia, o bem precede o justo: “Deus viu que era bom” (Gn 1).

Uma nota do Dicastério para a Doutrina da Fé do ano passado, no entanto, declara “ilícita qualquer forma de bênção que tenda a reconhecer (as) uniões” de homossexuais.

pedido de bênção pode conter um pedido de reconhecimento dirigido à comunidade ou instituição. Nesse caso, assume uma dimensão de apelo, protesto ou mesmo reclamação.

Pede-se a Deus o que não se conseguiu obter da Igreja. No Evangelho, o cego Bartimeu é repreendido pelos discípulos que o mandam se calar quando implora a Jesus: “Filho de Davi, tem piedade de mim!” A atitude de Jesus obriga os discípulos à conversão: “Coragem, levanta-te, ele te chama”.

Por trás do pedido de bênção, muitas vezes há a mesma sede de inclusão.

Para além deste pedido de validação de práticas, é legítimo um pedido de bênção?

Ninguém pode ser privado da bênção de Deus. Como toda oração verdadeira, a bênção nos convida a reconhecer nossa fragilidade. Isso é o oposto de um processo de autovalidação.

Vemos isso na parábola do publicano e do fariseu. Este último está em processo de autojustificação: “Sou melhor que os outros”. Enquanto o publicano implora: “Tem piedade de mim porque sou um pecador”.

bênção que acompanha um sacramento também ajusta a maneira como o encaramos. Insiste no fato de que, apesar da força que o sacramento dá, permanece a pobreza e a fragilidade de cada um para viver o que vem dele. Daí a necessidade de um acompanhamento adequado que dê sentido à bênção.

Como você vê o pedido específico para abençoar casais homossexuais?

sacramento do matrimônio une um homem e uma mulher. A bênção de um casal do mesmo sexo, precisamente como casal, seria muito parecida com a bênção que segue a troca de consentimento no sacramento. Por outro lado, as pessoas ainda podem ser abençoadas.

Lembre-se, uma bênção nunca pretende validar um estilo de vida. O fato de os homossexuais pedirem à Igreja que os abençoe nos convida a ouvi-los, a entrar na complexidade de sua história e de sua situação.

Jesus comeu com os pecadoresconversou com uma samaritanadeixou-se tocar pelo grito de um cego… A sua liberdade despertou nestas pessoas o desejo de Deus.

Sejamos realistas: nem todas as pessoas que não podem casar têm capacidade para viver sozinhas. Eles não têm direito ao apoio da Igreja em seu caminho de fé e conversão? Devemos ousar ser pastoralmente criativos.

De forma discreta e solidária a nível pessoal, a bênção é um sinal tangível da proximidade de Deus através da disponibilidade de um ministro da Igreja, leigo, diácono, sacerdote ou bispo.

 
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